Foto: Anderson Damião |
Uma noite de mentiras,
fingimentos e desabafos. Assim, a gente pode resumir o quinto encontro do
processo Doroteia, que o Coletivo Âmbar está preparando para o Festival de
Leituras Dramatizadas de Caruaru. Nessa noite, as atrizes puderam entrar em
contato com áreas desconhecidas de si mesmas e se questionar: o que é mentira e
verdade? Que necessidades me conduzem à mentira, a fingimento? O que estamos
fazendo no palco além de contar mentiras? E a principal: Como acreditar em
minhas próprias mentiras?
O encontro começou com
um exercício no mínimo inusitado: com os olhos vendados, as atrizes iam
recebendo estímulos sonoros e corporais pelo restante do elenco – desde
sussurros ao pé do ouvido, passando por gritos desesperados e chegando até
lambidas e mordidas – para, em seguida, narrar ‘a cena’ que havia sido criada
na sua mente a partir destes estímulos. No ultimo destes exercícios, Amanda
Clélia participou de uma sessão improvisada de “tortura”, em que facilitadores e
elenco se uniram para questionar a veracidade de seu discurso, conduzindo-a à
humilhação e ao desespero em momentos tensos como a iminência da crucificação
da prostituta que ela personificava no exercício.
Depois dos arrepios que
este estágio havia provocado, acontecem os primeiros momentos de reflexão, em
que as participantes relacionam os exercícios à sua postura como mulher e como
atriz, desvelando suas dificuldades em conduzir-se no processo, ao mesmo tempo
em que se satisfazem por participar do mesmo. Depois desse momento de um ‘desabafo
positivo’, seguiu-se a leitura do segundo ato do texto rodrigueano, dando lugar
às dificuldades na concepção da cena. Repetem-se as leituras sucessivas vezes,
ainda sem conseguir o resultado almejado, o que nos leva a refletir sobre o que
é necessário ao ator para que ele possa, de fato, imergir no universo do texto,
mesmo com exercícios tão bons como os iniciais. Aí, reina toda a dificuldade do
processo Doroteia: como unir as descobertas dos exercícios à potencialização da
leitura do texto rodrigueano?
A resposta? Só no encontro seguinte.
- por Márcio Andrade.
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