Hoje, foi o segundo encontro do
processo Dorotéia e uma noite de
descobertas. As perguntas que se faziam
eram muitas, mas a principal, para mim, como visitante de um novo grupo que ali
estava se configurando era: será que a alquimia daqueles semi-desconhecidos
daria certo?
Já havia acompanhado um pedaço do
trabalho do pessoal nos ensaios e apresentações de O Varal de Casa, mas nada havia me preparado para o que estava para
ver. Mesmo começando com certo atraso e alguns desencontros - afinal, era o
primeiro encontro na Casa Mecane -, o
ensaio foi bastante produtivo, começando com uma primeira leitura do texto
descrito por Nelson Rodrigues como uma ‘farsa irresponsável’.
Se, a princípio, me incomodou todos
lerem sentados e estáticos no chão, mais tarde saberia a razão de ter sido
dessa forma: era somente uma leitura de aquecimento, pois, em seguida, um
exercício mudaria os rumos do processo. À meia luz, Clébia Sousa, Jéssica Viana,
Lucrécia Forcioni e Ísis Agra escutam um piano instrumental, cada uma em um
canto do espaço negro e voltada para si. Poucos minutos depois, André Vieira,
Willams Costa e João Guilherme de Paula começam a provocá-las, sussurrando nos
seus ouvidos perguntas, ofensas e outras frases que as fazem levantar e
improvisar cenas no espaço.
Aconteceria, então, a segunda e a
terceira leituras do terceiro ato do texto, dessa vez com uma intensidade
única, com as meninas se revezando em alguns papéis, tamanha a indecisão dos
jovens condutores do processo em encontrar suas personagens.
Nas leituras seguintes, o grupo optou por desenvolver as cenas usando a trilha sonora proposta para os exercícios – mais especificamente as belas composições de Philip Glass para o longa As Horas (coincidentemente, um filme que também é permeado pela figura feminina) -, ganhando cenas que tem mais corpo e densidade. Com a chegada de Amanda Clélia, as coisas tomam outro rumo: depois de uma leitura do segundo ato para aproximar a recém-chegada ao texto, um novo exercício guia o processo. Jéssica e Lucrécia simulam o que parece ser um desejo da primeira de sair de dentro da segunda, como um parto da sua própria casa.
Como não conheço o texto, não enxergo as relações que esse exercício tem para a cena, mas reconheço o quanto sua intensidade foi essencial para uma das melhores cenas da noite. Enquanto Amanda provoca Lucrécia, Clébia provoca Jéssica e as duas “provocadas” adentram na cena com tanta intensidade que causam um arrepio quase uníssono em todos os presentes.
Só restou àquele público improvisado aplaudir a essência do que podemos chamar ‘teatro’ naquele espaço, aquilo que todos queríamos ver: nossas almas expostas, todo nervo e víscera dispostos para quem quisesse observar e se ver naqueles pedaços de gente tão etéreos em sua corporalidade, mas sólidos na comunicação que estabelecem com cada um de nós.
Aguardem nesta terça-feira, fotos do segundo ensaio desse novo processo!
por Márcio Andrade.
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